Guerra aberta – Media Vs. Videojogos

A seriedade, imparcialidade e procura da verdade jornalística nos meios de comunicação em Portugal, no que toca à temática dos videojogos e possíveis vantagens/desvantagens está a chegar a pontos de roçar o ridículo.

Com o crescimento da indústria, é impossível não reconhecer o seu impacto na sociedade. Situação à qual Portugal não está naturalmente imune. No entanto, o jornalismo português tornou-se de tal maneira tendencioso que a indústria e os seus produtos são sempre abordados de forma negativa.

Entre estes vários e triste episódios, venho relatar 3 dos quais se tornaram de uma maneira ou outra, mais mediáticos.

Em Setembro de 2011 a revista “Focus” decidiu fazer uma reportagem sobre “colecionismo” de videojogos e como é representado esse panorama em Portugal. Apesar da intenção ser muito boa e a ideia, no geral, ser bastante interessante, a publicação conseguiu a cada paragrafo transmitir algo de negativo e obscuro sobre os colecionadores.
Inexplicavelmente o artigo foi parar à secção “Comportamento”, com o título saliente “ O Mundo dos malucos”. Se o objectivo era supostamente mostrar o melhor do mundo do colecionismo e não denegrir a imagem de quem tem este hobby, começaram da pior forma.
Ao longo do artigo o massacre jornalístico continuou. Todos os pequenos detalhes que poderiam ser apontados como negativos foram calcados pela “Focus” de maneira sistemática. Facilmente é visto que a ideia do texto não foi tratar o colecionismo de videojogos como algo sério. Pior ainda foi o jogo duplo feito pelos jornalistas, que em grande parte das vezes distorceram as respostas dos seus entrevistados, salientando assim todos os aspectos mais dúbios.
Resumindo o episódio, a revista “Focus”, não teve o mínimo respeito pelos entrevistados, que acabaram por ser rotulados, PELA PRÓPRIA REVISTA, como MALUCOS, ESBANJADORES DE DINHEIRO QUE BRINCAM COMO CRIANÇAS COM ALGO QUE DEVERIA SER PROIBIDO PARA A SUA IDADE.

Infelizmente não é aqui que pára esta onda de péssimo jornalismo.

Em Setembro de 2013, Ivan Barroso (escritor, historiador dos videojogos e conhecedor da industria) foi convidado ao programa da TVI – “Você na TV” para debater, com o Dr. Quintino Aires (Psicologo), “os jovens e os videojogos”. Relembro que num programa anterior o Dr. Quintino Aires tinha apelidado dos videojogos como “droga” e um dos principais flagelos da sociedade portuguesa.
Após uma breve troca de opiniões e alguns argumentos bem fundamentados por Ivan, que se serviu de livros da especialidade para apoiar as suas afirmações, o Dr. Quintino Aires mudou de táctica. Primeiro lembrou o seu público da quantidade de prémios que ganhou em outras áreas, fazendo dele um especialista sem equivalente em Portugal, e mais tarde interrompendo sistematicamente o Ivan, levando posteriormente o debate para a área da psicologia, numa tentativa vã de assumir total controlo da conversa. Chegando ao ponto de rejeitar todos os estudos e opiniões do Ivan por não o considerar como “seu par”.
Foi tanta a insistência do Dr. Quintino em não debater o assunto com Ivan que o segmento acabou mesmo por ser terminado precocemente.
Mas será que realmente o Dr. Quintino não teve receio quando confrontado com dados viáveis? Porque será que numa tentativa mesquinha desistiu de falar sobre o tema que de uma maneira tão deliberada e sem papas na língua atacou? Até que ponto a afirmação de que Ivan não era seu “par” no campo de conhecimento da psicologia não serviu apenas como escudo perante uma guerra perdida de antemão? O video ainda pode ser visto no “youtube”, para que cada pessoa tire as suas próprias conclusões.

O mais recente caso manifestou-se na ultima edição da revista “Sábado” que vem falar novamente dos videojogos como uma “droga” e expor casos de crianças que abusaram da tal droga e que em alguns casos, acabaram em clínicas.

Jogar em excesso faz mal? Claro que faz, mas podemos usar uma analogia para qualquer outra coisa que esteja no nosso entorno. Tudo em excesso faz mal! No caso das crianças, toca aos pais gerir o tempo de jogo. Na revista “Sábado” fizeram referência a uma criança que jogou 21 horas sem parar. A minha pergunta é: “Onde estiveram os pais durante essas 21 horas?” Será que o artigo não deveria ser antes chamado “Casos – Limite de negligências familiares”?

Felizmente nem tudo está perdido, e ainda existe quem escreva bom jornalismo sobre videojogos com algum background e conhecimento de causa. Desde segmentos bem fundamentados no canal “SIC” até aos vários artigos escritos no jornal Público.

Os videojogos tem crescido como mais um tipo de arte, pelo menos internacionalmente. Em Portugal continuam a ser vistos como uma coisa para “crianças” ou em ultima instância “malucos”. O problema é que a sociedade irá continuar a ver a industria dos videojogos assim enquanto continuarem a serem feitos péssimos trabalhos por parte da comunicação.

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